terça-feira, 13 de outubro de 2009

FUNERAIS ÀS MARGENS DO SANTUÁRIO DA MORTE

Apesar de na televisão a novela mostrar um lado próspero, cheio de roupas coloridas, comida farta, higiene, riquezas e amores, a Índia sofre muito com a pobreza, e, com mais de 1 bilhão de habitantes, 90% da população são miseráveis.

O país sofre com o alto índice de criminalidade, que inclui o tráfico de drogas, homicídio, sequestro, tráfico de seres humanos, etc. Apesar de ter o 12º maior PIB do mundo, a Índia está na 135ª posição em renda per capita, entre 182 países e territórios. A distribuição de renda é outro problema: 25% de sua população (aproximadamente 275 milhões de pessoas) vivem abaixo da linha da pobreza.

Outra coisa incomum no país é a higiene. Animais como as vacas, que são tratadas como deuses, entram e sai pelas casas, defecando onde bem entender. As ruas são tomadas por lixo espalhado e é comum o comércio de alimentos sem as mínimas condições de higiene. Porém, talvez o mais chocante entre todos os problemas vividos pelos indianos seja o Rio Ganges.
O Rio Ganges, um dos maiores rios da Ásia, nasce no Himalaia, seguindo a direção sul pelas planícies da Índia. Possui uma extensão de 2413 quilômetros, e é um grande aliado em períodos chuvosos, fertilizando suas margens e favorecendo a agricultura.

Sua importância ultrapassa os fenômenos físicos, pois é considerado um deus entre a população indiana praticante do hinduísmo. Para eles, o rio simboliza o início e o fim da vida, e banhar-se nele é uma forma de purificar-se de todos os pecados.

O problema é que só na cidade de Varanasi, conhecida como "santuário da morte", trinta e duas ligações de esgotos deságuam no rio. Além disso, é comum a presença de diversos cadáveres parcialmente cremados ou mesmo intactos no meio do rio.

A origem desses cadáveres parte do ritual funerário hindu. Os crematórios "ghats" são os locais às margens do rio em que paga-se uma quantia para cremar corpos e depois jogar as cinzas na água. Quem acende a fogueira para o crematório é o homem mais velho da família, e ainda existe a prática de cremação da mulher viva quando o marido morre, mesmo que isso seja proibido nos dias de hoje.

A respeito das cremações, há exceções como crianças, sacerdotes e mulheres grávidas, que são jogados por inteiro. Como não há ninguém para pagar pelo serviço, os indigentes são jogados ao rio da mesma forma. Outro agravante é o alto nível de pobreza das castas inferiores. Muitas pessoas não têm dinheiro para pagar pelo funeral, nem mesmo para comprar lenha. Com isso, os corpos costumam serem jogados às margens parcialmente queimados.

É comum deparar-se com o contraste de um corpo em estado de putrefação — servindo de alimento para corvos, cães e outros animais — com um banhista fazendo o ritual de purificação, pessoas escovando os dentes ou lavando roupas. E, por incrível que possa parecer, essa água também é usada para beber. O cheiro de carne queimada é presente por todos os lados, e a vida segue normalmente em um cenário aterrorizante, onde o "deus" composto de água e outras imundices é deixado ao descuido, já que a mente humana, capaz de criar crenças extraordinárias, acredita que seu poder divino o faz purificar a si mesmo de toda a poluição, doenças e tóxicos que são propagados pelas mãos do próprio homem.

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostei..muito interessante!