quarta-feira, 22 de abril de 2009

Jornalismo no interior

Segue um texto feito no ano passado por mim, André e Rosane, companheiros de sala. Achei muito interessante o tema, valeu a pena correr atrás de docentes, profissionaise alunos em busca de opiniões e relatos sobre a experiência em trabalhar como jornalista no interior. Agradeço particularmente a professora Luciana, que nos guiou para um trabalho final satisfatório. Espero que gostem.


30/10/08

Profissionais de Jornalismo encontram dificuldades em buscar seu espaço no interior


Os problemas da categoria incluem o descumprimento da legislação, o exercício ilegal da profissão, as más condições de trabalho e as perdas salariais



O profissional diplomado em jornalismo pode encontrar resistências por parte de proprietários de veículos de comunicação no interior dos estados.

Situações como empresas de comunicação financiadas por pessoas que interferem diretamente no que vai ser publicado para interesses próprios, vícios regionais, estágios irregulares e jornalistas provisionados são comuns em cidades que não tem uma fiscalização presente.

O presidente do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais, Elian Guimarães de Oliveira, afirma que os maiores problemas da categoria são o descumprimento da legislação e dos acordos coletivos, o exercício ilegal da profissão, as más condições de trabalho e as perdas salariais. Segundo ele, os problemas mais graves de jornalistas trabalhando sem diploma estão no interior.

Oliveira destaca desafios como o da regulamentação profissional e o inchaço do uso ilegal de estagiários nas redações. "Com o tempo, houve várias inovações tecnológicas exigindo novos profissionais no mercado. Nossa regulamentação é de 1969 e precisa incluir essas inovações. Outro ponto importante é a precarização das condições de trabalho. Devido a ausência de número suficiente de fiscais nas Delegacias Regionais do Trabalho - DRTs, aguardamos, em Minas, até mais de um ano para que se proceda uma fiscalização e, a partir dela, podemos acionar a Justiça do Trabalho, o que torna a punição extremamente lenta e ineficaz.Os sindicatos não têm poder de polícia fiscalizadora e não podem punir as infrações", declara.

Sobre o estágio, este é proibido por lei, pois havia exploração por parte do aluno. Já houve casos em que profissionais foram demitidos e substituídos por estagiários, pois a mão de obra é mais barata e eles trabalham até 8hs por dia, sendo que a lei só permite 5hs na carteira.

Entra no lugar do estágio a "prática profissional compartilhada", que é similar, mas com o acompanhamento da faculdade, só podendo estagiar 4hs por dia.

Outro empecilho encontrado pelos profissionais de comunicação no interior são as pressões externas, caracterizadas pela proximidade com as fontes, a perseguição por parte de empresários, políticos, o poder público, entre outros. Jorge Peres, diretor do Jornal A Voz, de Ubá, já passou por essa situação.

“Quando fazemos uma matéria mais forte, ficam nos olhando com cara feia e não anunciam com a gente (...) Recentemente, fiz uma matéria com o título “Lixão Químico aterroriza Córrego do Santana”, defendendo os moradores que não queriam a instalação da usina nas proximidades de suas casas. Vencemos a batalha, mas alguns meses depois veio a FEMUR (Feira de Móveis de Minas Gerais) e por coincidência o Movimento Empresarial não anunciou no jornal A Voz”, declara.

De acordo com o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, o piso salarial definido para o interior de Minas Gerais com carga horária de 5 horas é de R$ 830,00 para jornais diários e R$ 745,00 para os demais, uma diferença de até R$ 677,09 frente ao piso de R$ 1.422,09 da capital, Belo Horizonte. Diversidade que pode se distanciar ainda mais pela falta de concorrência.

Mesmo formando em instituições de ensino superior fora das capitais, os obstáculos citados podem ser um estímulo para que os graduados em comunicação busquem uma posição no mercado restrito e competitivo dos grandes centros, mesmo que a disputa por uma vaga nesses locais exija qualificações que uma cidade do interior tem dificuldades em oferecer, como experiência ao recém-formado.

No entanto, frente às grandes cidades que já estão saturadas, a oferta do interior passa a ser uma boa opção quando se tem uma qualidade empreendedora, que busca a inovação no mercado. A internet e o processo de globalização, que traz acesso à tecnologia dos grandes centros, contribuem para o avanço das empresas de comunicação, como é o caso da cidade de Ubá, em Minas Gerais, em que a Líder FM trará investimentos em cobertura regional até o final do ano; e a Rádio Educadora, que modernizou seu estúdio e passou a operar com 5 mil watts de potência, abrangendo cerca de 100 cidades da Zona da Mata mineira.

Outra vantagem indiscutível na imprensa interiorana é a proximidade com o leitor. Algo que os jornais maiores não têm, já que neles o interior costuma ser notícia quando estão envolvidos escândalos, corrupção, poder público e violência.

De acordo com profissionais que vivem a realidade desse mercado restrito, o papel do jornalismo do interior é trazer o desenvolvimento cultural e social; preservar sua cultura local, representá-la e transmiti-la de forma democrática, em que esteja presente o direito de informação ao leitor que busca o interesse no que está acontecendo à sua volta.

Daí a importância de buscar profissionais qualificados que conheçam o território em que atuam, formados por instituições da própria região; e formar os profissionais já existentes, que tem experiência e uma identidade já consolidada com a população.

O desenvolvimento do jornalismo na cidade tem como grande influência a existência de uma instituição de ensino que traga a possibilidade de qualificação do profissional; como a Fagoc (Faculdade Ubaense Ozanam Coelho), que oferece o curso de comunicação social com habilitação em Jornalismo desde 2000, com laboratórios de rádio, TV e fotografia.

“Vejo que os alunos abrem portas que antes não existiam. O trabalho da Fagoc nesse sentido tem sido encontrar novas oportunidades”, afirma Ricardo Nogueira Reis, professor integrante do corpo docente do curso de Comunicação Social da faculdade.

Quanto a preocupação na formação do profissional, Jorge Peres acredita na influência da Fagoc. “A Fagoc nos trouxe esta oportunidade. Temos exemplos de profissionais do rádio que já concluíram o curso e outros que já estão concluindo”.

Elisangela Baptista Reis, coordenadora do curso de Comunicação Social da Fagoc, enfatiza o valor do investimento na formação do profissional de jornalismo. “É na faculdade que se forma a base, com matérias fundamentais que lhe dão a noção do certo e o errado, e até onde pode-se levar um caso à frente. Sem falar da ética, do respeito e do compromisso com a verdade, pois o jornalismo é muito mais do que apenas escrever ou fazer reportagens”.

Ludmila Oliveira, estudante do 8° período do curso, valoriza a formação. “Vale a pena sim, investir no curso, pois você sai preparado e com uma boa base, mesmo sabendo que o mercado é competitivo. Você também sai instruído para enfrentá-lo. Pretendo fazer carreira em Ubá, procurando sempre novos rumos, pois lá fora o mercado é bem complicado”.

Dervásio José Gonçalves Rufino, do 2° período de Jornalismo, acredita que os alunos devem desenvolver uma visão do que é tendencioso ou não. “É necessário que saibamos distinguir no mercado do interior a ”fraude” impressa, em busca de interesses financeiros e pessoais, com o status de empresa capitalista voltada ao lucro, que é dado a qualquer meio de comunicação, em qualquer lugar. Pois é dele que a comunicação subsiste”.

As características que estão inseridas nos jornais do interior é de serem menores, direcionados a um público menor. E nem por isso serão menos exigidos por um leitor cada vez mais globalizado, que tem acesso a diversos meios de comunicação como a internet e jornais de diversos locais do país, ao seu alcance.

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